Níveis de colesterol devem ser avaliados a partir dos 30 anos





Nem todos sabem que o colesterol é uma substância necessária para o organismo. Sem ele, as células não formam a membrana que as envolve. No entanto, o desequilíbrio na produção desse tipo de gordura pode ter sérias implicações no organismo.
O intrigante é que existem dois tipos de colesterol: o HDL, ou bom colesterol, que protege contra ataques cardíacos e o LDL, ou mau colesterol, que facilita a formação de placas de ateroma nas veias e artérias e favorece o aparecimento de doenças cardiovasculares.
Nem sempre os níveis de colesterol são determinados pela dieta e estilo de vida. Colesterol alto não dá sintomas a não ser quando o estrago já está feito, o que torna seu controle uma medida indispensável para evitar riscos, uma vez que há relação entre colesterol elevado e acidentes cardiovasculares, no Brasil, a principal causa de morte em homens e mulheres.
Nas últimas décadas, demonstrou-se a associação entre níveis elevados de colesterol no sangue e ocorrência de doenças cardiovasculares. Veja bem, estou dizendo cardiovasculares e não apenas cardíacas. Isso significa que acidentes cerebrais e a insuficiência vascular periférica também fazem parte desse conjunto de enfermidades cujo denominador comum é a aterosclerose, doença ligada à elevação do colesterol que provoca entupimentos nas artérias e veias, ou seja, gera redução de luz e obstrução no interior das artérias e, consequentemente, diminuição do fluxo sanguíneo.
Na segunda metade do século XX, verificou-se que pessoas com colesterol elevado tinham maior probabilidade de desenvolver problemas cardiovasculares. Depois, ficou provado pelo fracionamento dessa substância que existe o bom colesterol com efeito protetor e o mau colesterol que é nocivo ao organismo.A aterosclerose é causa, por exemplo, de ataques cardíacos como infarto do miocárdio e angina (o principal sintoma é dor intensa no peito), de intervenções como pontes de safena e angioplastias e é causa também de acidentes vasculares cerebrais. Portanto, estamos falando de uma patologia, a aterosclerose, que tem como um dos fatores desencadeantes o colesterol aumentado.
Quando se mede o colesterol do plasma, obtém-se o valor do colesterol total. Nele estão incluídas a fração HDL (High Density Lipoprotein), ou bom colesterol, e a fração LDL (Low Density Lipoprotein), o mau colesterol. Vários estudos demonstram que, nas pessoas com HDL aumentado ou nas faixas superiores do que é considerado normal, a ocorrência de doenças cardiovasculares é menor. Curiosamente, são as mulheres, especialmente antes da menopausa, que apresentam níveis elevados de colesterol bom. Esse é, provavelmente, um dos mecanismos que explica por que no período fértil elas ficam relativamente protegidas contra os ataques cardíacos. Depois disso, a incidência desses eventos é igual nos dois sexos.
Não se discute mais que o nível elevado do bom colesterol é um fator de proteção. O tempo demonstrou que se ele estiver abaixo de determinados valores constitui fator de risco importante. No momento, no laboratório do Incor, estamos pesquisando especificamente as alterações associadas aos níveis baixos do HDL.
É considerado nível baixo do HDL: Abaixo de 40 para os homens e de 45 para as mulheres. Com frequência, encontramos indivíduos com níveis de HDL inferiores a 25 e doença cardiovascular precoce instalada. Esse dado importante tem implicação prática, pois para avaliar adequadamente o risco é necessário conhecer os valores das frações do colesterol.
A longo prazo, o LDL, ou mau colesterol, estabelece relação clara com a ocorrência de doença cardiovascular. O estudo de Fremingham, nos Estados Unidos, que analisou ao longo de muitos anos mais de cinco mil pessoas, começando o acompanhamento quando elas eram ainda adolescentes ou estavam iniciando a fase adulta, demonstra a indiscutível relação entre doença cardiovascular e níveis aumentados do colesterol.
Diante de tal evidência, tentou-se avaliar o que aconteceria se esses casos fossem tratados a longo prazo, quer dizer, o que aconteceria se conseguíssemos baixar suficientemente o nível de LDL nas pessoas que sofreram infarto, têm doença coronariana documentada por coronariografia ou se submeteram a cirurgia das coronárias. A conclusão a que mais de 20 estudos chegaram foi uniforme e constitui a chamada prevenção secundária. A diminuição dos níveis de LDL, de fato, reduz a ocorrência de eventos cardiovasculares, ou seja, reduz a incidência de infartos fatais e não fatais, a necessidade de cirurgia e de angioplastia e a mortalidade. E mais: reduz também os índices de mortalidade por outras causas. Essa informação indica que a pessoa com LDL aumentado, especialmente se já manifestou algum problema cardíaco, precisa ser tratada.
Na segunda etapa da investigação, procurou-se analisar o que aconteceria com uma parcela significativa da população que não tem doença cardíaca manifesta, mas apresenta nível de LDL aumentado. A resposta foi a mesma. Baixando o nível de LDL suficientemente, haverá redução dos eventos cardiovasculares e da mortalidade global dentro de quatro ou cinco anos. Curioso é que essa conclusão se aplica a homens e mulheres, jovens e adultos, fumantes e não-fumantes, hipertensos e não hipertensos.
Essas duas informações nos obrigam a difundir a idéia de que a pessoa precisa medir os níveis de colesterol, pois se estiverem fora das faixas adequadas, corrigir essa anormalidade leva a uma redução substancial de eventos patológicos.
Colesterol devem ser avaliados a partir dos 30, 35 anos de qualquer maneira, porque o tratamento a longo prazo é importante e a prevenção pode ser feita por mudanças no estilo de vida, controle da dieta, exercícios físicos e uso de medicamentos.
A alteração do colesterol no plasma, isoladamente, não causa sintomas. Não há um mecanismo de alerta para indicar que o nível está aumentado. Portanto, a conduta mais sensata é fazer exames regulares.

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